MEU FILHO, MINHA MEDITAÇÃO

No silêncio e no escuro
Sinto o corpo teu e respiro calma
Sinto o teu peso nos meus braços
E esqueço que há passado e futuro
Concentro-me no teu corpo e no teu peso
E esqueço que há mundo para além disso
Esqueço até que existo: porque quero.
E naquele momento só existes tu
E eu sou o teu corpo e o teu peso
Encostas a tua cabecinha no meu ombro
E sinto um prazer imenso
Porque tu és a minha meditação
Quero gravar este momento,
Quero fazer este poema
Tenho medo de perder a memória
De ti, bebé, pequeno, meu e único
Tenho medo de não saber viver o momento.
Tenho medo de tudo.
Preciso de voltar a esquecer.
Esquecer que não és meu, que és do mundo
Esquecer que somos dois e que te estou a adormecer
Tenho de voltar a sentir
O teu corpo e o teu peso no meu colo,
Minha meditação
Volto a esquecer que o mundo existe,
E o passado e o futuro.
E voltamos os dois a ser uma estrela no vácuo
E volto a sentir um prazer imenso
Por te ter no meu colo
De cabecinha encostada ao ombro
A adormecer.

Olinda Pina Gil, publicado na revista Capitolina a 04/2021

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