Claudia Gadini
Biografia
Oxigênio
Às vezes choro, um momento
Na busca abrupta de respirar
Foi esse meu primeiro choro
Aquele do nascimento
Cortaram-me a fonte
de oxigênio e alimento
Eu contorcida em apelos
Pendurada pelos tornozelos
O teto, o chão... Onde ?
As luzes me doeram os olhos
tão pequenos... Me bateram
Meus pulmões arderam
Gritei para viver
Chorei em busca de ar
Então isto é nascer ?
Vim ao mundo para doer ?
Até hoje faço isso. Nasço.
Choro palavras, grito letras
Derramo tremas no teclado, orações
Na poesia-vida, o oxigênio puro
Soluço vírgulas, hiatos, radicais
Despeço-me do útero macio e escuro
Tramo e tremo absolutos, conjunções
E contrações que me devolvem à luz
Escrever é meu ato de respirar
Conjugando e exclamando todo o haver
Assim suporto o agudo do mundo
Me lancetando ao centro, profundo
Mas há em mim -imperativo- viver
E antes que a vida impeça, peço
ao Universo a chama do respiro
Permita-me sempre um pouco de ar...
Claudia Gadini
12.01.06
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Boreal
Em teu rastro
cego sigo
sem tino
e sobrevivo
em vestígios
Sublimo perfume
pairo leve
plano pluma
no vácuo destino
vício verso
Eu vagalume breve
de vida nenhuma
Aliso o espectro
surreal
ao reverso
e teus indícios
introspecto
E assisto
em armistício
circunspecto
em mudo comício
resisto e registro
Teu brilho boreal
de frio intelecto
Claudia Gadini
18/05/05
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Quero a Palavra
Quero a palavra inviável
inusitada, impublicável
Indelevel e irrascível
Quase corpo palpável
Com acento sensível
de teor indubitável
Quero a palavra primeira
Bem ou mal construída
Fluindo assim incontida
Irreverente, verdadeira
Imoral e descabida
Com ressonância certeira
Quero a palavra inquieta
Que alerta e desperta
A indolente madrugada
Forte, invisível, sem letra
Arquiteta da forma inusitada
Tão perfeita ninguém soletra
Quero a palavra vadia
Em transparência sedosa
Na língua bailarina que rodopia
Acrobacia no verso da prosa
De consistência tão ardorosa
Que a boca enrubesce e silencia
Quero aquilo que não se pronuncia.
Eu quero a asa da borboleta !
Claudia Gadini
14/10/05
biografia:
Sou Claudia Gadini, amante das Letras e de todas as formas de Arte. Só nelas vislumbro a presença Divina. Da humanidade, a única salvação Fora isso, sou poeira de estrela, estatelada no chão.