Paranóia
Acordei com um sorriso pesadelo
invadindo o meu ego vencedor,
vencido de destinos traçados,
caminhos interrompidos
esperanças desmoronadas
amores.
Como cidadão
sou um homem tranquilo.
Durmo toda a noite
não tenho fantasmas
nem pesadelos povoando meus sonhos.
Como homem
sou o cidadão angustiado
frustrado,
violentado na dignidade de ter
a consciência tranquila.
Luanda, 1997
Angolê
\'- Este país morreu!\'
José Eduardo Agualusa
Na hora do sol-dos-cazumbis [1]
entre o caos e o vazio
Os tchirikwátas[2] cantam.
Como que reescrevendo a geografia real
Reinventam fronteiras
Entre sombras pretas e o fulgor vermelho
Do país
surpreendentemente complexo.
O sonho obstinado permanece
Este país recusa a morte.
Outubro 2006.
[1] Sol-das- almas; Tonalidade vermelha do céu, depois das 16 horas, em dias de sol;
[2] Pássaro canório
Cantiga de esperança
\'As nossas vozes
Não podem estar silentes
Reencontremo-nos nós mesmos...\'
Maria Eugénia Neto, in O Soar dos Quissanges, 2002
O nosso destino
é sempre esta festa
a despontar na aurora de cada um
No crepúsculo de cada qual.
Vamos varrer as \'cinzas da morte.\'
Que chegou o tempo do emergir a vida
festejada em terreiro limpo de tristezas.
E quando a dicanza
começar nos seus ranque ranque
A desafiar o quissange
Naquele clamoroso cântico
cavalgando chanas e mulolas
Deixa a alma
escorregar na tua pele
O sangue correr dentro de ti
como água dos rios
que nunca olha para traz .
Balança o corpo
como um dongo sem destino
Baçulando a desesperança
Que eu
ainda acredito no sonho do Poeta
\'Um só povo uma só nação\'
Não é utopia não
Manuel C. Amor
Setembro 2006.
biografia:
Sou o Manuel C. Amor,
Luso-Angolano,nascido há 60 anos, resido há dez em Portugal.
Escrevo desde muito cedo, [publiquei o meu primeiro poema em 1964], tenho poesia dispersa por jornais,revistas e antologias.
Militante anti colonialista desde muito cedo, continuo \'a sentir um aperto muito grande no meu coração sempe que tomo conhecimento de uma injustiça, aconteça ela onde aconteça
jcamor@mail.telepac.pt